As Feiticeiras
"Quanto lhe custa a fidelidade!... Rainhas, magos da Pérsia, admirável Circe! Sublime Sibila, ah! Que é feito de vós? E que bárbara transformação!... Aquela que, do trono do Oriente, ensinou as virtudes das plantas e a viagem das estrelas, aquela que no trípode de Delfos, radiosa de luz, proferia os seus oráculos ao mundo de joelhos - é ela, mil anos depois, que se expulsa como um animal selvagem, que se persegue nas encruzilhadas, amaldiçoada, acossada, apedrejada, atirada para os carvões a arder!... O clero não tem fogueiras bastantes, o povo injúrias suficientes e a criança pedras que cheguem contra a infeliz. O poeta (também criança) lança-lhe uma outra pedra, mais cruel para a mulher. Supõe, gratuitamente, que ela é sempre feia e velha. À palavra Feiticeira, vêem-se as horríveis velhas de Macbeth. Mas os processos cruéis mostram o contrário. Muitas morreram precisamente por serem jovens e belas.
A Sibila predizia o destino. E a Bruxa fazia-o. É a grande e verdadeira diferença. Ela evoca, conjura, opera o destino. Nao é a Cassandra antiga que tão bem via o futuro, o deplorava e guardava. Esta cria esse futuro. Mais do que Circe e Medeia, tem na mão a varinha do milagre natural, e por ajuda e irmã a Natureza. Tem ja traços do Prometeu moderno. Nela começa a indústria, sobretudo a indústria soberana que cura e refaz o homem. Ao contrário da Sibila, que parecia olhar a aurora, ela olha o pôr do Sol; mas justamente esse pôr do Sol sombrio dá, muito tempo antes da aurora (como acontece nos cimos dos Alpes), uma alvorada antecipada do dia.
O padre bem entrevê que o perigo, a inimiga, a terrível rivalidade está naquela que ele finge desprezar, a sacerdotiza da Natureza."
A Sibila predizia o destino. E a Bruxa fazia-o. É a grande e verdadeira diferença. Ela evoca, conjura, opera o destino. Nao é a Cassandra antiga que tão bem via o futuro, o deplorava e guardava. Esta cria esse futuro. Mais do que Circe e Medeia, tem na mão a varinha do milagre natural, e por ajuda e irmã a Natureza. Tem ja traços do Prometeu moderno. Nela começa a indústria, sobretudo a indústria soberana que cura e refaz o homem. Ao contrário da Sibila, que parecia olhar a aurora, ela olha o pôr do Sol; mas justamente esse pôr do Sol sombrio dá, muito tempo antes da aurora (como acontece nos cimos dos Alpes), uma alvorada antecipada do dia.
O padre bem entrevê que o perigo, a inimiga, a terrível rivalidade está naquela que ele finge desprezar, a sacerdotiza da Natureza."
As Feiticeiras - Jules Michelet
1 Comments:
Viva.
Andava a pesquisas por este livro e vim aqui ter, já agora, que tradução leste? A da pergaminho? É a que tenho e que verifiquei faltar metade do livro. Alguém estava com pressa... Humpf... Fica bem e boas feitiçarias. :)
Cumprimentos,
BM Resende
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